segunda-feira, 25 de julho de 2011

Renascimento celeste

Para o bem do futebol, especialmente o sul-americano, a Copa América acabou. Enfim. Eu não aguentava mais aturar Paraguais, Venezuelas, Perus, Bolívias e afins batendo (na) bola em pastos pessimamente disfarçados de tapetes, com direito a apagões nos estádios e hinos esquecidos e não executados.

Felizmente, ainda para o bem do futebol sul-americano (ou do pouco que restou dele), não vimos a Venezuela chegar à sua primeira finalíssima, nem o Paraguai dos cinco empates e nenhuma vitória levar o caneco. Seria o fundo do poço. A prova irrefutável da mediocridade da competição.

Bom também que Argentina e Brasil não enganaram seus torcedores. Mostraram que só de estrelas não se faz um time. Que um Messi  sem Xavis e Iniestas  faz apenas primaveras. Que Neymar, Ganso, Pato e outros bichos precisam de (muito) mais tempo e menos topete para sonhar com lugar cativo no Olimpo da Seleção.

O melhor desta Copa América, contudo, foi ver o Uruguai, dezesseis anos depois, outra vez no topo do continente. Prêmio para uma geração de jogadores que já havia feito bonito no Mundial da África do Sul, em 2010, quando conquistou um inesperado mas merecidíssimo quarto lugar.

Liderada por Diego Forlán e Luis Suárez no ataque e por Diego Lugano na defesa, a Celeste fez um time de verdade, que, mesmo não sendo brilhante, foi capaz de finalmente ratificar o ótimo momento do futebol uruguaio, vice-campeão da Taça Libertadores com o Peñarol e da Copa do Mundo Sub-17, realizada há algumas semanas no México.

Os três a zero sobre os até então "invencíveis" paraguaios, na decisão, foram incontestáveis. Uma vitória monumental. Como já tinha sido monumental – e, por que não dizer, épica – a vitória nos pênaltis contra a Argentina, nas quartas de final. Ambos sucessos dignos de uma seleção que tem demonstrado, nos últimos anos, aquele aguerrido desejo de ser novamente protagonista dos torneios que disputa.

O Sol de Maio voltou a brilhar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

One, two, Fred's coming for you

Hoje acordei exausto. Noite agitadíssima. Cheia de pesadelos. Sonhei que Brasil e Argentina haviam sido eliminados da Copa América ainda nas quartas de final, que o Paraguai podia ser campeão sem ganhar um jogo sequer, que a Venezuela tinha chegado às semifinais, que o Japão havia conquistado o Mundial de futebol feminino sobre os Estados Unidos.

Que Elano e André Santos tinham recebido propostas milionárias do futebol americano  o da bola oval , após o fiasco em La Plata.

Que Carlitos Tévez não era mais o herói do povão argentino, mas o vilão, fazendo enfim jus a seu phisique du role.

Que Larissa Riquelme e Hugo Chávez haviam se casado em segredo e passado a lua de mel em Cuba, sob as barbas de Fidel.

Que as japonesas iam ser as estrelas de um calendário sensual.

Não faltou nem o Fred – Freddy para os mais assustados. Até ele deu o ar da desgraça nesta madrugada de horrores. Como se não bastasse ter devorado os sonhos tricampeões da musa e goleira norte-americana Hope Solo, o monstro ainda chutou para bem longe minha alma penadamente verde-amarela. Vade retro!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A virada do Corinthians

Depois de nove rodadas, sete vitórias e um empate, o alvinegro é líder isolado do Brasileirão. Ainda invicto, o Timão tem a defesa menos vazada do certame até aqui (são apenas quatro gols sofridos), um jogo a menos que seus principais adversários e – ao que parece – muita disposição para continuar no topo da tabela.

Quem diria.

Há alguns meses, o cenário corinthiano era o de cidade arrasada pós-ataque de Decepticons (os robôs malvados de Transformers).

A inesperada derrota para o Tolima, da Colômbia, ainda na pré-Libertadores. A gozação dos rivais: toliminado! toliminado! A aposentadoria obesamente tardia de Ronaldo. A saída de Roberto Carlos, para encher os meiões de (mais) dindim. A fúria da fiel torcida. O treinador Tite em xeque. E, de brinde, um vice-campeonato paulista.

Mas, se meus quinze leitores permitem que eu abra a caixinha de clichês, há males que vêm para bem. A precoce eliminação no torneio sul-americano deu ao técnico o tempo de que ele tanto precisava para ajeitar o time  que, sem os dois pentacampeões mundiais, ganhou mobilidade, velocidade e, sem perdão pelo trocadilho, apetite por vitórias.

Aliada a esse período de treinos, esteve a imensa sorte de não ter tido desfalques provocados pela inconveniente Copa América. É óbvio – só para citar exemplos paulistas – que o Santos tem sentido falta do trio Neymar-Ganso-Elano e o São Paulo, do jovem Lucas.

Também têm ajudado muito o Timão o renascimento do futebol de Danilo e a chegada de Alex. Ambos trouxeram ao marcador meio-campo, formado por Ralf e Paulinho, um passe de mais qualidade. Ainda somam-se a isso os gols de Liédson e a incansável movimentação de Jorge Henrique e Willian no ataque.

Só há um senão na consistente trajetória de recuperação do Corinthians: a contratação de Adriano  ele mesmo, o Imperador. Logo o centroavante deverá voltar aos gramados. E, quando isso acontecer, de que modo se comportará? Como Alexandre o Grande, soberano ávido por conquistas, ou Nero, monarca prestes a atear fogo em seu reino?

Por via das dúvidas, é melhor deixarem os extintores à mão no Parque São Jorge.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Super-Hermano

A notícia poderia até ser manchete do Planeta Diário: "Extra! Extra! Asteroide de verdinhas kriptonianas cai nas Laranjeiras e tira do Flu o craque Darío Conca!". A ela se seguiria o lide não menos apocalíptico: "Dá adeus ao Tricolor o super-herói de seu último título nacional, o Brasileirão conquistado em 2010".

Quadrinhos e exageros à parte, a verdade é que o argentino fará, sim, muita falta não só ao time do Fluminense, como também ao futebol brasileiro.

De um lado (dentro das quatro linhas), porque é um dos poucos jogadores com categoria e visão  de raio X?  suficientes para conduzir um meio-campo. Sua ágil canhotinha é capaz de salvar da mediocridade aquelas partidas condenadas aos mais frios e desolados recantos da Zona Fantasma.

De outro (fora delas), porque é um raro exemplo de discrição e comedimento em tempos de celebridades. Basta o árbitro encerrar o jogo para Conca guardar a capa vermelha e voltar a ser aquele rapaz tímido, avesso a microfones, câmeras e afins. Uma estrela low-profile em meio a uma constelação de boleiros (de)cadentes.

Que pena ele ter deixado nossa velha Maracanópolis – temporariamente, esperamos – para se aventurar nos distantes gramados chineses. Só nos resta, enfim, desejar-lhe boa viagem e brevíssimo retorno. Para o alto e avante, hermano!

domingo, 3 de julho de 2011

Ganso e a Seleção

Bom o time escolhido por Mano Menezes para começar a Copa América. Fazia tempo que a gente não via uma formação canarinha tão leve, arejada, sem brucutus e afins, em especial do meio-campo para a frente. De Lucas até Alexandre Pato, passando por Ramires, Ganso, Neymar e Robinho, a bola promete rolar macia nos gramados portenhos.

A defesa parece estar (quase) igualmente bem escalada: com a segurança de Júlio César no gol, a polivalência de Daniel Alves na lateral-direita, a liderança de Lúcio e a juventude de Thiago Silva no miolo de zaga. O senão está no apenas razoável André Santos, ainda dono da lateral-esquerda.

Só resta saber se dentro das quatros linhas a boa escalação do treinador se transformará em futebol bonito e eficiente (não necessariamente nessa ordem).

Grande parte do sucesso ou fracasso dessa nova seleção pode  ou deve  passar pelos pés de Paulo Henrique Ganso, o único do elenco, incluindo os reservas, com as características de um autêntico meia: aquele jogador que tem o cérebro no bico da chuteira e que, por isso, é capaz de distribuir, cadenciar, acelerar  enfim, pensar o jogo.

A dúvida é se ele vai assumir a camisa dez amarelinha sem constrangimentos e jogar com a maestria e a lucidez com que conduz a equipe do Santos ou se vai ser como um novo Messi, gênio incontestável em seu clube, o Barcelona, mas ainda um jogador em busca da grande partida na seleção argentina.

A certeza, só o tempo trará. E, com ela, esperamos todos, o passe inesperadamente preciso, o lançamento improvavelmente cirúrgico, o toque inconfundivelmente distinto, do tipo que descortina o jogo amarrado, pulveriza a retranca intransponível e deixa o atacante cara a cara com o goleiro adversário.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Menina de ouro

Todos os dias o esporte conta histórias dignas dos filmes mais edificantes que o cinema pode produzir. Daquelas que nos emocionam e arrepiam. Daquelas que tocam plateias do mundo inteiro por serem universais. E eu tive a grande sorte de ouvir uma delas da boca de um de seus principais personagens.

Final de um torneio de basquete – o NBA 5x5  para meninas de até 15 anos. De um lado, um tradicional colégio particular de São Paulo, o Batista Brasileiro. De outro, uma escola pública do município do Rio de Janeiro, a João Goulart, que atende predominantemente às comunidades carentes a seu redor. Como sublinhou uma reportagem pós-decisão, "estavam ali, na mesma quadra, duas realidades distintas do Brasil".

Contra todos os prognósticos, o quinteto carioca levou a melhor. Com muita vontade, tênis surrados e uma cesta nos segundos finais, venceu o jogo por 21 a 19 e conquistou a taça.

Só isso já seria matéria-prima suficiente para um roteiro hollywoodiano capaz de arrancar todas as nossas lágrimas. Mas aí é que vem a história de que falei no início.

Ao final da partida, a menina-prodígio do time paulista, Fernanda, ainda que desolada pela derrota inesperada, aproximou-se do treinador adversário para dar-lhe os parabéns. E mais: pedir a ele que não permitisse que Lauane, a autora da tal cesta nos segundos finais, parasse de jogar; tinha certeza de que, se ela continuasse no basquete, chegaria à seleção brasileira.

"E um dia vou poder dizer que já a enfrentei", completou a garota, para logo em seguida se juntar às suas colegas no pódio, a fim de saudar as campeãs nacionais.

O gesto deixou sem palavras o "treinador adversário", o professor Gustavo Rangel  que me contou feliz da vida essa pequena mas inesquecível aventura na Pauliceia entre uma aula e outra na João Goulart (onde por acaso leciono língua portuguesa).

É por atitudes como essa, por ainda existirem pessoas como a Fernanda, tão jovem quanto generosa, craque dentro e fora das quatro linhas, que há razões para acreditarmos – assim mesmo, intransitivamente. Quem sabe aquele comercial do refrigerante não esteja certo de fato? Quem sabe os bons não sejam realmente a maioria?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Meia-noite no Pacaembu

No mágico Meia-noite em Paris – filme doce até a última gota de chuva, que só poderia ter saído da patisserie de Woody Allen , o escritor Gil Pender viaja até a França dos anos vinte, lugar/época em que sempre sonhou ter vivido, e esbarra com vários craques flanando pelos bares e cafés da cidade: Cole Porter, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Salvador Dali, Luis Buñuel, Pablo Picasso...

Sonho ou desejo semelhante, causou a decisão da Taça Libertadores, entre Santos e Peñarol. Como teria sido delicioso ver o time de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia alvinegra dando a bola contra os valentes aurinegros uruguaios nos míticos anos sessenta. Ao som dos Beatles, dos Rolling Stones, da Jovem Guarda.

Mas logo sonho e desejo derretem feito uma pintura surrealista quando penso num cenário sem tevê por assinatura, internet e todas as cores dos anos oitenta. Por isso, é melhor deixar a máquina do tempo na Paris de Woody e me contentar com os meninos da Vila  versão 2011 , que levaram o Santos ao tricampeonato da América.

Não foi fácil. O jogo começou nervoso. Tão nervoso que até Neymar mostrou as travas de sua chuteira para um adversário. Sorte que o árbitro deixou o lance passar, como certa vez passou uma inesquecível cotovelada de Pelé, também num jogador uruguaio. E o primeiro tempo acabou no zero  resultado dos pés descalibrados do Santos e da marcação aguerrida do Peñarol.

Veio o minuto inicial do segundo tempo e, com ele, a arrancada de Arouca, o calcanhar de Ganso, o chute seco e sem firulas de Neymar, a falha do goleiro uruguaio, o gol que abriu o caminho para o título. Era o que faltava para a torcida santista explodir de felicidade – e o Peñarol sair da retranca.

Daí em diante, com espaço para contra-atacar e mais tranquilidade, o jogo do time paulista fluiu melhor. O gol do jovem Danilo, aos 23 minutos, praticamente resolveu a partida. Pois nem o gol contra do bom quarto-zagueiro Durval, aos 34, pareceu ter tirado a certeza de que a vitória seria do Peixe.

(Quase) à meia-noite, o apito final: o Santos voltava a ser o melhor do continente, depois de quase cinco décadas. Com todos os méritos, erguia o troféu um time de garotos que, como boas madeleines, nos fizeram lembrar de um passado relativamente distante, em que nosso futebol era sinônimo de arte. Só faltava mesmo o Rei entrar em campo para a nostalgia ser completa. Bom, não faltou.

sábado, 18 de junho de 2011

O Barcelona de Luxemburgo

Desde que o Barça alcançou o topo do futebol mundial com títulos e mais títulos regados àquele jogo bonito e coletivo  com muita posse de bola, passes rápidos e precisos, além de Lionel Messi, claro , dia após dia surgem técnicos, jogadores e até times inteiros querendo jogar como o onze espanhol.

A última vítima de tamanha pretensão é Vanderlei Luxemburgo, o treinador do Flamengo. Como se não bastasse o sonho, ainda não realizado, de ser o Alex Ferguson da República de Pindorama – ou pelo menos do Ninho do Urubu , Luxa agora cismou de montar seu time tendo como modelo o... Barcelona!

Não que a intenção dele não seja boa. É até louvável que ele e outros professores doutores, como diria Fernando Calazans, se deixem inspirar por bons exemplos. O problema é querer dar um passo maior que a perna. Ainda mais quando você não tem a perna e o pé esquerdo do Messi, o pé direito do Xavi ou o do Iniesta em seu elenco.

Nem o Ronaldinho Gaúcho do Barcelona.

Já passou da hora de Luxemburgo deixar os delírios catalães para o jovem Pep Guardiola. É tempo de ajeitar seu miolo de zaga, ainda que sem Puyol e Piqué; encontrar uma solução para o comando de ataque, mesmo que sem Villa e Pedro; e fazer o Flamengo jogar como... Flamengo! A torcida rubro-negra agradecerá.

domingo, 12 de junho de 2011

28 minutos

Finalíssima da Copa do Brasil entre Coritiba e Vasco da Gama, no Couto Pereira. O placar, dois a dois, dá o título aos cariocas. Os paranaenses precisam de mais dois gols para levar a taça. Aos 22 minutos do segundo tempo, o volante Willian, do Coxa, aproveita um rebote da defesa vascaína e arrisca um inacreditável chute de fora da área. Golaço. No ângulo do goleiro Fernando Prass. Incendeia o Inferno Verde.

E aí começam os tais 28 minutos. Quem sabe os mais dramáticos 28 minutos da história da família cruzmaltina. A mãe grita que o time está recuado demais. O pai deixa o sofá e senta no chão, para ficar mais próximo da tevê e dos jogadores. O irmão, quase sempre tão blasé quando o assunto é futebol, xinga inesperada, impublicavelmente. E eu, assustado, apenas abaixo a cabeça, à espera do pior.

Poucas vezes, em 31 anos de maracanices, abusei tanto do meu sistema ultranervoso. Mãos e pernas tremiam sem o menor pudor. Coração, cabeça e estômago faziam uma ola atrás da outra  como se meu corpinho magrelo fosse a arquibancada de São Januário em dia de final de campeonato. Um caldeirão prestes a transbordar.

Bola na grande área do Vasco... A zaga afasta, o pai corta, a mãe despacha, o irmão isola e eu chuto para o lado que o nariz aponta. O árbitro aponta quatro minutos de acréscimo. A família cruzmaltina dá as mãos. O pouco que falta é uma eternidade. Diego Souza e Felipe, tão destemidos dentro das quatro linhas, se encolhem fora delas. Fecham os olhos. Fecham também os nossos olhos.

Vêm à lembrança os anos truculentos, os anos sem campeonatos, os anos do rebaixamento e do acesso, o pior início de ano dos 113 anos de um clube tão gigante quanto singular. E ainda assim o sentimento não parou. Não podia. Pois família que é família de verdade não desiste jamais  tem amor e esperança infinitos.

Abrimos os olhos. Até o goleiro do Coritiba no ataque. O juiz inventa mais um minuto. A bola vai e volta teimosa: vai com o veloz Éder Luís e volta com os briosos jogadores do time verde. Segundos finais, e ela quica na grande área vascaína pela última vez. Chutamos a derrota para longe. A contagem regressiva desacelera, desacelera...

... até o apito final. Explosão.

sábado, 4 de junho de 2011

Papai Joel existe

O cara era o treinador do Fluminense quando Renato Gaúcho fez o histórico gol de barriga sobre o Flamengo, na final do Carioca de 1995; do Botafogo, quando Dimba marcou o gol do título estadual de 1997 sobre o Vasco; do Vasco, em 2000, quando Romário calou o Palestra Itália ao fazer o quarto tento da Virada do Século sobre o Palmeiras, na finalíssima da Copa Mercosul; e do Flamengo, quando o time da Gávea, numa improvável arrancada, deixou a zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro de 2007 para conquistar uma vaga na Taça Libertadores do ano seguinte.

Apenas por isso, por ter marcado a história dos quatro grandes clubes do Rio – e não só por ser bom contador de causos e alegria dos repórteres nas coletivas , Joel Natalino Santana mereceria fácil o epíteto de Forrest Gump do futebol carioca. O sujeito bonachão, paizão de muitos jogadores, enganador para os torcedores míopes, gostem ou não, está completando trinta anos de uma vitoriosa carreira como técnico.

Claro, derrotas existiram e foram daquelas inesquecíveis. Fantasmas como os de Petkovic e Cabañas ainda devem assombrar as noites de Joel. O primeiro bate aquela falta aos 43 do segundo tempo: bola no ângulo do goleiro Hélton (do Vasco) e tricampeonato para o Fla de Zagallo. O segundo deita, rola e comanda o acachapante três a zero do América do México sobre o rubro-negro em pleno Maracanã, eliminando-o da Taça Libertadores de 2008.

Mas Natalino não viveu só de maracanices. Chegou a buscar a sorte em clubes de outros estados, como Corinthians, Coritiba, Internacional. Talvez quisesse (e ainda queira) provar que não era rei de um reino só. Infelizmente, a garoa paulistana, o friozinho paranaense e gaúcho não o ajudaram, e ele só foi obter algum sucesso na Bahia, onde foi campeão com a dupla Ba-Vi. Nada como o sol e o mar a inspirar um legítimo carioca, que só goza a vida de fato se estiver de chinelos de dedo.

Capítulo à parte na história de Joel foram os meses que passou na África do Sul, à frente da seleção local. Pena ele ter sido demitido às vésperas da Copa do Mundo. Imagino como teria sido divertido vê-lo à beira do campo, de prancheta na mão e inglês na ponta da língua, na competição mais importante do planeta, dividindo holofotes, microfones e afins com alguns treinadores europeus, engravatados da cabeça aos pés...

Por falar em holofotes, microfones e afins, o técnico tem estado bem longe deles. De folga e bermuda desde que deixou o Botafogo (onde levantou mais um caneco estadual, em 2010), Papai Joel parece não ter pressa de voltar à velha rotina de treinos e jogos. Sabe que mais cedo ou mais tarde um filho querido baterá à sua porta pedindo colo...

terça-feira, 24 de maio de 2011

O craque da rodada

Ronaldinho Gaúcho tirou da cartola duas ou três jogadas de efeito no 4 a 0 do Flamengo sobre os reservas do Avaí. Bernardo foi decisivo na virada do Vasco, 3 a 1, sobre o Ceará. Os artilheiros Liedson, do Corinthians, e Kléber, do Palmeiras, fizeram a diferença nas vitórias de seus times sobre os desfalcados Grêmio e Botafogo, respectivamente.

Mas o craque da primeira rodada do Brasileirão não estava em Macaé, nem em Fortaleza, muito menos em Porto Alegre ou São José do Rio Preto. Estava, sim, no Rio de Janeiro, no Engenhão. Entrou em campo às 21:45h do último domingo e, ainda antes de tocar na bola, levantou todas as torcidas. O público parecia prever a exibição de gala que o esperava.

Bastou o pontapé inicial para o veterano camisa dez – que começou a jogar nos campinhos de Liverpool – desfilar sua categoria. Antes dos cinco minutos, já tinha marcado o primeiro golaço. De canhota – seu forte. Depois vieram outros tentos, de todas as maneiras possíveis: de cabeça, peito, bicicleta, carrinho, letra, e que letras. Até de pé direito, que, dizem, não é lá grandes coisas.

Prato cheio para o locutor, que não tinha descanso. Só que, à certa altura, nem a garganta dele aguentou, e o sujeito pediu um intervalo, um stop. Mas logo vinha gol, gol, gol.

O time do craque, inevitavelmente, ganhou de goleada, e a plateia o aplaudiu tanto, que ele foi ao vestiário e voltou ao gramado duas vezes. Apenas para uma prorrogação mágica e pênaltis extras – exigência do árbitro Pimenta, sargento fora das quatro linhas e sócio do Corações Solitários Futebol Clube nas horas vagas.

Prorrogação vencida com notas de saudade iminente, pênaltis convertidos com maestria de gênio, veio o final do jogaço. Delírio no estádio. Obladis e obladás como balões coloridos nas arquibancadas, nos camarotes, na geral, nos corredores. Pena que a vida lá fora tinha que seguir  pelas ruas longas, sinuosas e jamais tão felizes do Engenho de Dentro.

Que não demore muito a segunda rodada...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A primeira rodada

Começa no próximo fim de semana o Brasileirão. Trinta e oito rodadas para testar a força e a resistência dos vinte principais clubes do país. Com os dribles de Neymar, as assistências de Conca, a velocidade de Lucas, os lampejos de Thiago Neves e a categoria de Montillo, a disputa promete ser das melhores.

Já na primeira rodada temos jogos que podem ser decisivos, especialmente num torneio de pontos corridos, em que o início é tão importante quanto o final.

Santos e Internacional é um deles. O Peixe é candidatíssimo à taça  não só pelos jogadores que tem, mas também pelo treinador, o papa-títulos Muricy Ramalho. O senão é a possível conquista da Libertadores. O título e a consequente preparação para o Mundial mudariam o foco do Alvinegro Praiano. Já o Colorado, apesar do bom elenco, pode sofrer um bocado nas garras ainda inexperientes de Falcão. A não ser que a genuína elegância do ex-jogador inspire D'Alessandro e cia.

Outro confronto dos bons é Fluminense e São Paulo. O time do interminável Rogério Ceni ensaia um carrossel com jeitão de montanha-russa das mais velozes: Lucas, Fernandinho, Dagoberto, Ilsinho e Luís Fabiano formam uma linha de frente que merece toda a atenção. Já o Tricolor carioca, atual campeão e dono de um plantel ainda forte, precisa de imediato se reorganizar fora de campo. A desratização do vestiário das Laranjeiras e a chegada do técnico Abel Braga são um bom começo.

Há também os clássicos Palmeiras e Botafogo, Grêmio e Corinthians – que hoje valem mais pela tradição do que pela qualidade dos times. Ainda sem os reforços pretendidos, Felipão, Caio Júnior, Renato Gaúcho e Tite, respectivamente, terão de improvisar a omelete com os poucos ovos que têm.

Flamengo e Cruzeiro, outros dois favoritos à área vip da tabela, têm missões aparentemente mais fáceis: o campeão carioca encara um Avaí mais preocupado com a semifinal da Copa do Brasil; o mineiro, um Figueirense enfraquecido, que viu da arquibancada Chapecoense e Criciúma decidirem o campeonato estadual.

A tendência é que nossa competição mais importante, diferentemente dos anos anteriores, engrene já nas primeiras rodadas, uma vez que quase todos os cachorros grandes estão fora das fases finais da Taça Libertadores e da Copa do Brasil (exceção feita a Santos e Vasco). O Brasileirão antes do que muitos imaginavam é o que há.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Maracangalha

Era uma vez um reino em que sorriam a ordem e o progresso. Nele abundavam empregos de carteira assinada, ruas asfaltadas, casas atendidas por rede de esgoto, leitos nos hospitais. O transporte público corria os quatro cantos sem sair dos trilhos, a merenda fazia os alunos lamberem os beiços e a corrupção – o que é isso mesmo?  não passava de lenda urbana.

Mas, como nada é perfeito, nesse reino ainda faltava uma coisa importantíssima. Algo fun-da-men-tal para um reino que desejava alcançar o primeiro mundo e entrar no cobiçado G10, liderado pelo País das Maravilhas: um estádio de futebol digno de uma final de Copa do Mundo.

Estádio, não. Estádio era aquela quase-várzea recauchutada a míseras centenas de milhões para uns Joguinhos Pan-Americanos. Lata-velha sexagenária. Os donos do reino queriam mais: uma arena de última geração, com teto retrátil, poltronas reclináveis e ar-refrigerado. Tinha de ser moderníssima e  diziam com muito orgulho e amor  multiúso (embora alguns não soubessem listar ao menos três usos que justificassem o multi).

Para tanto, arrecadaram um bilhão de patacas reais e começaram a botar abaixo o velho Maraca, apelido carinhoso do  cá entre nós  simpático estádio. Alguns conselheiros do Partido do Contra até protestaram: "Estão estuprando um patrimônio histórico!". Mas o barulheco não foi tão poderoso quanto os tratores da demolição e a presença de espírito do Real Ministro dos Esportes, que encerrou o caso com poucas palavras:

"Jamais permitiríamos um atentado desses contra a moral e os bons costumes do reino. E se, ainda assim, um estupro tivesse acontecido, não poderíamos admitir um atentado mil vezes maior, de consequências inimagináveis para toda a nação: o aborto do nosso sonho mais intenso, de sediar uma final de Copa do Mundo. Que venha ao mundo cheia de saúde a novíssima arena".

E ela veio. Pela bagatela de dois bilhões de patacas reais.

No dia da tão aguardada final, milhares de súditos, cordiais e felizes para sempre, estiveram lá. E eu também, com meu liforme verde-e-amarelo, chapéu de palha, Anália a tiracolo e o brado retumbante... Aha! Uhu! O Maraca é nosso!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pontapé inicial

Não foi amor à primeira vista. Nem à segunda. Até os 11 anos uma partida de futebol era para mim tão interessante quanto a propaganda eleitoral gratuita, as aulas de matemática ou os legumes que mamãe queria porque queria que eu experimentasse. Meu negócio eram carrinhos, figurinhas, quadrinhos, pique-isso, pique-aquilo e a Xuxa.

Talvez a coisa que mais me aproximasse do mundo da bola fosse o meu time de botão, um autêntico Expresso da Vitória guardado a mil chaves numa caixa de margarina. Ou o meu pai, o Zé Gomes, ex-lateral direito dos melhores campinhos do subúrbio, um geraldino de coração imensamente feliz.

Mas um dia, lá pelos 12 anos, ouvi aquele velho rádio de pilha. No dia seguinte, de novo. E, no outro, mais uma vez. Tanta gente falando do jogo de ontem. Com alegria, entusiasmo, paixão. Como quem não quisesse ficar de fora do papo de amanhã, resolvi assistir à minha primeira partida inteiríssima, de noventa minutos mais os acréscimos. E acabei goleado pelo eternamente jovem esporte bretão.

Daí em diante não pendurei as chuteiras. Brasileirão, Alemão, Inglês, Espanhol, Italiano, Carioca, Paulista, Copa do Brasil, Libertadores, Liga dos Campeões... Sem falar da Copa do Mundo, aquele banquete servido apenas de quatro em quatro anos. Nos primeiros tempos, até um XV de Novembro e Novorizontino às dez da noite me encantava.

Claro, depois de quase vinte anos de poltrona e alguma arquibancada, fiquei mais seletivo, exigente, à espera do próximo golaço do Messi. Mas não menos apaixonado. Pelo jogo, pela arte, pela estratégia, pelo imponderável, pelo sobrenatural  pela rede que só aquela bola é capaz de balançar.

Por tudo isso, e pelo desejo de voltar a escrever, é que a partir de hoje entro em campo e me jogo de carrinho naquele papo sobre o jogo de ontem. Com a mesma alegria, entusiasmo, paixão que um dia aquele menino de 12 anos descobriu em seu velho rádio de pilha.