segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pontapé inicial

Não foi amor à primeira vista. Nem à segunda. Até os 11 anos uma partida de futebol era para mim tão interessante quanto a propaganda eleitoral gratuita, as aulas de matemática ou os legumes que mamãe queria porque queria que eu experimentasse. Meu negócio eram carrinhos, figurinhas, quadrinhos, pique-isso, pique-aquilo e a Xuxa.

Talvez a coisa que mais me aproximasse do mundo da bola fosse o meu time de botão, um autêntico Expresso da Vitória guardado a mil chaves numa caixa de margarina. Ou o meu pai, o Zé Gomes, ex-lateral direito dos melhores campinhos do subúrbio, um geraldino de coração imensamente feliz.

Mas um dia, lá pelos 12 anos, ouvi aquele velho rádio de pilha. No dia seguinte, de novo. E, no outro, mais uma vez. Tanta gente falando do jogo de ontem. Com alegria, entusiasmo, paixão. Como quem não quisesse ficar de fora do papo de amanhã, resolvi assistir à minha primeira partida inteiríssima, de noventa minutos mais os acréscimos. E acabei goleado pelo eternamente jovem esporte bretão.

Daí em diante não pendurei as chuteiras. Brasileirão, Alemão, Inglês, Espanhol, Italiano, Carioca, Paulista, Copa do Brasil, Libertadores, Liga dos Campeões... Sem falar da Copa do Mundo, aquele banquete servido apenas de quatro em quatro anos. Nos primeiros tempos, até um XV de Novembro e Novorizontino às dez da noite me encantava.

Claro, depois de quase vinte anos de poltrona e alguma arquibancada, fiquei mais seletivo, exigente, à espera do próximo golaço do Messi. Mas não menos apaixonado. Pelo jogo, pela arte, pela estratégia, pelo imponderável, pelo sobrenatural  pela rede que só aquela bola é capaz de balançar.

Por tudo isso, e pelo desejo de voltar a escrever, é que a partir de hoje entro em campo e me jogo de carrinho naquele papo sobre o jogo de ontem. Com a mesma alegria, entusiasmo, paixão que um dia aquele menino de 12 anos descobriu em seu velho rádio de pilha.

3 comentários:

Fernanda Duarte disse...

Meu coração não chegou a nascer com o aplicativo do futebol, nem espaço em disco para que ele viesse a ser instalado. Não tem amor à grama verde das bolas (só à das flores e dos pés descalços). Mas tem amor (sobrando-assim) aos textos, vidas e paixões verdinhas, aquelas úmidas e cheias como um Maracanã torcendo – as paixões alegres e entusiasmadas, meninas. E os seus textos, meu Fábio, falem do que falarem, têm aquele cheiro maciamente perfeito de terra molhada, são inteiros, malemolentes e redondos como um gol. Faço questão de ficar na fila do gargarejo da pequena área e ser a primeira seguidora. :-) Os amores alheios, quando muito e muito bem amados, acabam se entranhando nos nossos. Como este amor eterno entre um menino de 12 anos e seu velho rádio de pilha. Mil balanços de rede para você a cada texto, meu escritor!

Cláudia Benevides disse...

Fábio,
Que jeito gostoso de escrever!!!
Nem gosto de futebol!!! rsss
Mas me deu vontade de ler suas coisas!!
E que paixão!
Parabéns.
Bjos
http://www.draclaudiabenevides.blogspot.com/

Floradas de amor disse...

O amor por algo assim é algo inesplicável, motiva, envolve, acelera... Gostei mto do seu texto, do seu blog, aproveitei e li mais, parabéns!

=D