segunda-feira, 25 de julho de 2011

Renascimento celeste

Para o bem do futebol, especialmente o sul-americano, a Copa América acabou. Enfim. Eu não aguentava mais aturar Paraguais, Venezuelas, Perus, Bolívias e afins batendo (na) bola em pastos pessimamente disfarçados de tapetes, com direito a apagões nos estádios e hinos esquecidos e não executados.

Felizmente, ainda para o bem do futebol sul-americano (ou do pouco que restou dele), não vimos a Venezuela chegar à sua primeira finalíssima, nem o Paraguai dos cinco empates e nenhuma vitória levar o caneco. Seria o fundo do poço. A prova irrefutável da mediocridade da competição.

Bom também que Argentina e Brasil não enganaram seus torcedores. Mostraram que só de estrelas não se faz um time. Que um Messi  sem Xavis e Iniestas  faz apenas primaveras. Que Neymar, Ganso, Pato e outros bichos precisam de (muito) mais tempo e menos topete para sonhar com lugar cativo no Olimpo da Seleção.

O melhor desta Copa América, contudo, foi ver o Uruguai, dezesseis anos depois, outra vez no topo do continente. Prêmio para uma geração de jogadores que já havia feito bonito no Mundial da África do Sul, em 2010, quando conquistou um inesperado mas merecidíssimo quarto lugar.

Liderada por Diego Forlán e Luis Suárez no ataque e por Diego Lugano na defesa, a Celeste fez um time de verdade, que, mesmo não sendo brilhante, foi capaz de finalmente ratificar o ótimo momento do futebol uruguaio, vice-campeão da Taça Libertadores com o Peñarol e da Copa do Mundo Sub-17, realizada há algumas semanas no México.

Os três a zero sobre os até então "invencíveis" paraguaios, na decisão, foram incontestáveis. Uma vitória monumental. Como já tinha sido monumental – e, por que não dizer, épica – a vitória nos pênaltis contra a Argentina, nas quartas de final. Ambos sucessos dignos de uma seleção que tem demonstrado, nos últimos anos, aquele aguerrido desejo de ser novamente protagonista dos torneios que disputa.

O Sol de Maio voltou a brilhar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

One, two, Fred's coming for you

Hoje acordei exausto. Noite agitadíssima. Cheia de pesadelos. Sonhei que Brasil e Argentina haviam sido eliminados da Copa América ainda nas quartas de final, que o Paraguai podia ser campeão sem ganhar um jogo sequer, que a Venezuela tinha chegado às semifinais, que o Japão havia conquistado o Mundial de futebol feminino sobre os Estados Unidos.

Que Elano e André Santos tinham recebido propostas milionárias do futebol americano  o da bola oval , após o fiasco em La Plata.

Que Carlitos Tévez não era mais o herói do povão argentino, mas o vilão, fazendo enfim jus a seu phisique du role.

Que Larissa Riquelme e Hugo Chávez haviam se casado em segredo e passado a lua de mel em Cuba, sob as barbas de Fidel.

Que as japonesas iam ser as estrelas de um calendário sensual.

Não faltou nem o Fred – Freddy para os mais assustados. Até ele deu o ar da desgraça nesta madrugada de horrores. Como se não bastasse ter devorado os sonhos tricampeões da musa e goleira norte-americana Hope Solo, o monstro ainda chutou para bem longe minha alma penadamente verde-amarela. Vade retro!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A virada do Corinthians

Depois de nove rodadas, sete vitórias e um empate, o alvinegro é líder isolado do Brasileirão. Ainda invicto, o Timão tem a defesa menos vazada do certame até aqui (são apenas quatro gols sofridos), um jogo a menos que seus principais adversários e – ao que parece – muita disposição para continuar no topo da tabela.

Quem diria.

Há alguns meses, o cenário corinthiano era o de cidade arrasada pós-ataque de Decepticons (os robôs malvados de Transformers).

A inesperada derrota para o Tolima, da Colômbia, ainda na pré-Libertadores. A gozação dos rivais: toliminado! toliminado! A aposentadoria obesamente tardia de Ronaldo. A saída de Roberto Carlos, para encher os meiões de (mais) dindim. A fúria da fiel torcida. O treinador Tite em xeque. E, de brinde, um vice-campeonato paulista.

Mas, se meus quinze leitores permitem que eu abra a caixinha de clichês, há males que vêm para bem. A precoce eliminação no torneio sul-americano deu ao técnico o tempo de que ele tanto precisava para ajeitar o time  que, sem os dois pentacampeões mundiais, ganhou mobilidade, velocidade e, sem perdão pelo trocadilho, apetite por vitórias.

Aliada a esse período de treinos, esteve a imensa sorte de não ter tido desfalques provocados pela inconveniente Copa América. É óbvio – só para citar exemplos paulistas – que o Santos tem sentido falta do trio Neymar-Ganso-Elano e o São Paulo, do jovem Lucas.

Também têm ajudado muito o Timão o renascimento do futebol de Danilo e a chegada de Alex. Ambos trouxeram ao marcador meio-campo, formado por Ralf e Paulinho, um passe de mais qualidade. Ainda somam-se a isso os gols de Liédson e a incansável movimentação de Jorge Henrique e Willian no ataque.

Só há um senão na consistente trajetória de recuperação do Corinthians: a contratação de Adriano  ele mesmo, o Imperador. Logo o centroavante deverá voltar aos gramados. E, quando isso acontecer, de que modo se comportará? Como Alexandre o Grande, soberano ávido por conquistas, ou Nero, monarca prestes a atear fogo em seu reino?

Por via das dúvidas, é melhor deixarem os extintores à mão no Parque São Jorge.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Super-Hermano

A notícia poderia até ser manchete do Planeta Diário: "Extra! Extra! Asteroide de verdinhas kriptonianas cai nas Laranjeiras e tira do Flu o craque Darío Conca!". A ela se seguiria o lide não menos apocalíptico: "Dá adeus ao Tricolor o super-herói de seu último título nacional, o Brasileirão conquistado em 2010".

Quadrinhos e exageros à parte, a verdade é que o argentino fará, sim, muita falta não só ao time do Fluminense, como também ao futebol brasileiro.

De um lado (dentro das quatro linhas), porque é um dos poucos jogadores com categoria e visão  de raio X?  suficientes para conduzir um meio-campo. Sua ágil canhotinha é capaz de salvar da mediocridade aquelas partidas condenadas aos mais frios e desolados recantos da Zona Fantasma.

De outro (fora delas), porque é um raro exemplo de discrição e comedimento em tempos de celebridades. Basta o árbitro encerrar o jogo para Conca guardar a capa vermelha e voltar a ser aquele rapaz tímido, avesso a microfones, câmeras e afins. Uma estrela low-profile em meio a uma constelação de boleiros (de)cadentes.

Que pena ele ter deixado nossa velha Maracanópolis – temporariamente, esperamos – para se aventurar nos distantes gramados chineses. Só nos resta, enfim, desejar-lhe boa viagem e brevíssimo retorno. Para o alto e avante, hermano!

domingo, 3 de julho de 2011

Ganso e a Seleção

Bom o time escolhido por Mano Menezes para começar a Copa América. Fazia tempo que a gente não via uma formação canarinha tão leve, arejada, sem brucutus e afins, em especial do meio-campo para a frente. De Lucas até Alexandre Pato, passando por Ramires, Ganso, Neymar e Robinho, a bola promete rolar macia nos gramados portenhos.

A defesa parece estar (quase) igualmente bem escalada: com a segurança de Júlio César no gol, a polivalência de Daniel Alves na lateral-direita, a liderança de Lúcio e a juventude de Thiago Silva no miolo de zaga. O senão está no apenas razoável André Santos, ainda dono da lateral-esquerda.

Só resta saber se dentro das quatros linhas a boa escalação do treinador se transformará em futebol bonito e eficiente (não necessariamente nessa ordem).

Grande parte do sucesso ou fracasso dessa nova seleção pode  ou deve  passar pelos pés de Paulo Henrique Ganso, o único do elenco, incluindo os reservas, com as características de um autêntico meia: aquele jogador que tem o cérebro no bico da chuteira e que, por isso, é capaz de distribuir, cadenciar, acelerar  enfim, pensar o jogo.

A dúvida é se ele vai assumir a camisa dez amarelinha sem constrangimentos e jogar com a maestria e a lucidez com que conduz a equipe do Santos ou se vai ser como um novo Messi, gênio incontestável em seu clube, o Barcelona, mas ainda um jogador em busca da grande partida na seleção argentina.

A certeza, só o tempo trará. E, com ela, esperamos todos, o passe inesperadamente preciso, o lançamento improvavelmente cirúrgico, o toque inconfundivelmente distinto, do tipo que descortina o jogo amarrado, pulveriza a retranca intransponível e deixa o atacante cara a cara com o goleiro adversário.